Kardec, Allan, Sra.
Constituição da Sociedade Anônima
SEM FINS LUCRATIVOS E DE CAPITAL VARIÁVEL DA CAIXA GERAL E CENTRAL DO ESPIRITISMO

(2o artigo)

O artigo sobre a constituição da Sociedade anônima, publicado no último número da Revista, foi, da parte de grande número dos nossos correspondentes, objeto de calorosas felicitações e de marcas inequívocas de satisfação geral, testemunhadas pelas numerosas e lisonjeiras cartas de adesão que recebemos de todas as partes, nos estimulando poderosamente e nos autorizando a prosseguir, conforme o vivo desejo da Sra. Allan Kardec, a execução do plano do mestre.

Na verdade o Sr. Allan Kardec nos legou uma tarefa muito pesada para as nossas débeis forças; mas, e reconhecemos com um sentimento de viva satisfação, nosso apelo despertou um eco simpático no coração de todos os homens verdadeiramente devotados ao triunfo de nossas idéias, e as promessas de concurso material e o assentimento moral de todos nos deixam profundamente convencidos de que os nossos esforços não serão improdutivos.

Trazendo cada um a sua espiga, pondo seus conhecimentos à disposição de todos e contribuindo para aumentar o germe fecundo destinado a dar a todos o pão da vida, sem dúvida chegaremos, com a ajuda dos Espíritos bons, a assegurar o desenvolvimento e a difusão universal dos nossos princípios.

No próximo número publicaremos uma nova lista das somas depositadas na caixa geral, desde 1o de agosto. Hoje nos limitaremos a anunciar que recebemos um certo número de pedidos de admissão como membro da Sociedade, pedidos cujo exame tivemos que adiar para a primeira assembléia-geral, conformemente ao artigo 23, § 3o dos estatutos36.

“Venho pedir-vos, diz um dos nossos correspondentes de Villevert (Oise), que me inscrevam por quatro ou cinco ações na 36 Os Estatutos da Sociedade Anônima do Espiritismo aparecerão na primeira quinzena de setembro. Brochura in-8; preço, 1 fr. Paris, Administração da Sociedade Anônima, 7, rue de Lille. Sociedade Anônima, tão logo julgarem oportuno aumentar o capital... Inútil acrescentar que aplaudo com todas as forças a idéia de uma Sociedade comercial, meio eficaz de propagar a Doutrina.”

O Sr. M***, de Bordeaux, é mais taxativo ainda; diz ele: “Acabo de ver, com muito prazer, as disposições tomadas; são firmes, e podemos dizer que agora o Espiritismo tem um ponto de apoio independente de qualquer personalidade. Sua marcha para frente será mais rápida, porque os maiores problemas que encerra poderão ser estudados, e os resultados produzidos sem entraves.”

O presidente da Sociedade Espírita de Bordeaux, durante o exercício 1867-1868, que igualmente adere de maneira absoluta à nova organização, houve por bem colocar à disposição da Sociedade Anônima uma centena de exemplares de sua brochura: Relatórios dos Trabalhos da Sociedade Espírita de Bordeaux, cedendo à caixa geral o produto da venda.

As sociedades e os espíritas isolados de Liège, Bruxelas (Bélgica), Lyon, Toulouse, Avignon, Blois, Carcassonne, Rouen, Oloron-Sainte-Marie, Marselha, etc., etc., também houveram por bem assegurar sua adesão aos estatutos da Sociedade, bem como o seu concurso ativo para lhe garantir a vitalidade.

Num próximo artigo, exclusivamente consagrado a uma revista geral do movimento da imprensa e das sociedades espíritas francesas e estrangeiras, nós nos empenharemos em demonstrar a oportunidade do momento para a fundação de uma organização e de uma direção sérias.

Em alguns meses duas novas sociedades, dois jornais foram fundados na Espanha; a Sociedade de Florença criou um órgão de publicidade; um jornal em polonês apareceu em Léopold (Galícia austríaca) e ficamos sabendo, nestes últimos dias, que um jornal em língua portuguesa está prestes a ser editado na Bahia (Brasil). As antigas sociedades se desenvolvem; num único centro da Bélgica, quinze professores primários aderem aos nossos ensinos; em Liège, em Lyon, etc., os diversos grupos da localidade exprimem o desejo de se reunirem sob uma direção única. Em toda parte a Doutrina, longe de enfraquecer e degenerar, desenvolve-se e conquista influência. Todos os espíritas compreenderam que o momento de afirmar-se chegou, e cada um se dedica com ardor para concorrer ao movimento regenerador.

Não nos foi feita nenhuma objeção sobre a transferência dos donativos à caixa geral, mas recebemos alguns pedidos de retificação quanto à maneira pela qual nossa lista foi organizada. Várias somas, inscritas em nome de uma Sociedade ou de um indivíduo, eram, na realidade, o produto da cotização de todos os membros de um grupo. Era nossa intenção simplificar tanto quanto possível os detalhes. Em nossa próxima lista faremos as observações que nos foram comunicadas.

Ao lado das adesões irrestritas que acabamos de mencionar, recebemos certo número permeadas de observações críticas, não quanto ao objetivo, mas sobre o modo e a forma da Sociedade. Para alguns, as expressões empregadas nos estatutos são demasiado comerciais. Para outros, o montante das partes parece um tanto elevado, e a porção dos benefícios atribuídos ao fundo de reserva muito considerável. Aos primeiros, lembramos as explicações que demos a respeito no último número da Revista e as reflexões que, sobre o mesmo assunto, publicava o Sr. Allan Kardec no número de dezembro último.

Estamos persuadidos de que todos os espíritas aplaudirão a formação da nova Sociedade, quando virem que os fundadores, inspirando-se nas idéias do mestre, tiveram em vista, sobretudo, assegurar o futuro do Espiritismo, colocando-o sob a
égide da lei, aos seus olhos o único meio de paralisar em certos momentos as influências nocivas, substituindo, assim, o regime de tolerância pelo do direito, sujeito o primeiro quase sempre a variações, conforme os homens e as circunstâncias.

Quanto ao que concerne à quantidade fixada para as cotas-parte e ao pequeno número de fundadores, lembraremos que o que importava, antes de tudo, era estabelecer uma base, um centro de ação, onde todas as atividades, todos os devotamentos pudessem congregar-se. Hoje a Sociedade está constituída; seus estatutos, essencialmente modificáveis e progressivos, como tudo o que é de origem humana, poderão sofrer, no futuro, as transformações que parecerem úteis para cumprir o desejo geral e satisfazer às novas necessidades.

Todas as correspondências dirigidas à Sociedade Anônima, no que respeita aos pedidos de admissão como membros da Sociedade, bem como as sugestões para a modificação dos estatutos, serão conservadas num dossiê especial, a fim de serem submetidas às deliberações dos associados na primeira assembléiageral anual, que, nos termos de ato da Sociedade, é a única que tem o poder de deliberar e estatuir sobre estas interessantes questões.

Não temos senão um objetivo, um desejo: assegurar a vitalidade do Espiritismo, satisfazendo às aspirações gerais. Se, como o esperamos, as medidas tomadas pela Sociedade Anônima nos permitirem obter esse resultado, nós nos julgaremos
recompensados além dos nossos méritos, quando, para nós, houver soado a hora do repouso e outros mais dignos, se não mais devotados, forem chamados para nos substituírem.

R.E. , setembro de 1869, p. 360